26 janeiro, 2012

Chico y Rita

Chico y Rita.
                    de Tono Errando, Javier Maristal e Fernando Trueba.

        Ouvindo Buena Vista Social Club, Live at Carnegie Hall, tenho uma sensação de satisfação que possivelmente venha da companhia de meu pai nos inícios de noite, quando ele se sentava na sala, colocava seus discos de bolero na vitrola e fumava frente ao aparelho, quieto e silenciosamente. A música cubana sempre esteve entre seus gostos musicais e a mim, por consequência, também despertou paixão. O filme Chico y Rita, de Tono Errando, Javier Maristal e Fernando Trueba, consegue tocar essa experiência de paixão, nas cores, suingue, musicalidade e atração que a cultura cubana me desperta, não possibilitando uma análise imparcial do filme, sobretudo por possuir tantas referências sonoras que constituem a minha formação e interesse musical.
         Chico Y Rita é uma animação que possivelmente poderia ser uma película em live-action. É o limiar do filme com atores reais e a animação, pois consegue dialogar com a referência da realidade produzida na animação, evitando o uso de fantasias maiores na execução dos movimentos, sem cair na pieguice de ser uma cópia fria da realidade - o uso dos sutis e confortáveis movimentos de câmera utilizados ao longo de todo o filme exploram as belas panorâmicas e subjetividades dos personagens, tornando intensos planos como quando Chico e Rita vão para a cama.
        A animação é o romance entre Chico, um pianista, e a cantante Rita, na bela e atraente Havana dos anos de 1940. O filme se desenvolve em torno de separações e encontros que mergulham os personagens entre as artificiais traições e a música, fazendo resistir à história que os atravessam mesmo na distância física que, por momentos, os mantém separados.
        Assim como a animação Valsa com Bashir e O Mágico, Chico Y Rita é uma animação para adultos e desmistifica a noção de animação como um produto infantil. É possível verificar que esse produto de animação para adultos se tornou uma tendência no mercado e festivais de cinema, como Annecy e o Oscar. Estes tipos de produções lidam com a realidade, muitas vezes na crua decadência do homem, e utilizam da força da animação para trazer ainda mais o público para as situações e conflitos embutidos nas histórias.
        O trabalho de direção de arte de Mariscal em Chico y Rita é irretocável e elegante, criando encontros antes consagrados – cinema de Hollywood e jazz latino – através de estudos documentais minuciosos da cultura cubana dos anos de 1940, em gráficos e cores, elaborando personagens humanos e profundos, em cenários, uso da iluminação e pontos de vistas subjetivos que, em preto e branco, poderiam possivelmente resultar em uma película noir – salvo sua narrativa não estar primariamente associada a um filme policial.
      O filme explora sua personagem principal em todos seus elementos de sensualidade – seu vestido amarelo, seu cabelo muitas vezes caído aos olhos e seu dançar sexy e ingênuo – fazendo os olhos dos espectadores usufruírem, sem vulgaridade, dos elementos característicos da mulher latina – vale ressaltar que o filme não é uma produção norte americana e mantém a visão de respeito sobre os países latinos.
       É interessante observar a valorização da mulher em Rita que, se em momentos se mostra frágil à espera do homem de sua vida, mostra que a personagem é uma mulher capaz de conduzir seu próprio destino, compreender seus próprios desejos e, mesmo sendo uma mulher nos anos de 1940, viver com enorme intensidade e independência a realização de uma mulher talentosa, que flerta consigo e com a vida. Segundo Paul Whitington, da Independe.ie, “Mariscal criou a mulher animada mais sexy desde Jessica Rabbit”.

Thiago Franco Ribeiro
25 de janeiro de 2012.



Um comentário:

Abacatu disse...

Realmente um belíssimo filme! DOs melhores que vi recentemente, com certeza ele merecia a estatueta de ouro!